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Especial: Ninfomaníaca

LARS VON TRIER, NINFOMANÍACA E O SEXO EXPLICITO NO CINEMA
Erotismo ou pornografia?

Por Paulo Costa




Ninfomaníaca, ninfomania [nin.fo.ma.ni.a] sf (ninfo+mania2) Tendência, em certas mulheres, para o abuso do coito;
Uma palavra que por si só justifica-se atos obscenos, explícitos, palavra que origina o título da mais nova obra do controverso e polêmico diretor Lars von Trier, e que ajuda a levantar a questão:

De qual maneira obras audiovisuais atuais como Shortbus, Azul é a Cor Mais Quente, Um Estranho no Lago e até mesmo Ninfomaníaca, conseguem quebrar barreiras, abranger o sexo e gerar discórdia entre o erotismo e o pornográfico?

Sexo [se.xo] [...] 4 Conjunto de qualidades físicas que despertam o apetite sexual. S. anal: relação sexual que envolve a introdução do pênis no ânus do(a) parceiro(a). S. forte: os homens. S. fraco: o belo sexo, as mulheres. S. oral: relação sexual que envolve o uso da boca para estimular os genitais do(a) parceiro(a).

Erotismo [e.ro.tis.mo] sm (eroto+ismo) 1 Caráter ou tendência eróticos. 2 Indução ou tentativa de indução de sentimentos, mediante sugestão, simbolismo ou alusão, por uma obra de arte.

Pornográfico [por.no.grá.fi.co] adj (porno2+grafo1+ico2) 1 Relativo à pornografia. 2 Em que há pornografia; impudico, obsceno.

Diante essas informação podemos dizer que filmes com sexo explicito são obras pornográficas? Ou isso seria apenas um limite imposto pela sociedade conservadora que diante ao dicionário insiste em que tudo, absolutamente tudo, tem que ser rotulado? Talvez não seja algo que vai da cabeça, da mentalidade de cada um, mas nesse caso o dicionário de nada adiantaria?

São dúvidas que não param de surgir, assim como obras que utilizam o sexo explicito em suas cenas, algumas de maneiras justificáveis, outras nem tanto.


Começarei citando um filme de 2005 que tenho uma paixão obscena, Shortbus de John Cameron Mitchell, que narra o drama vivido por uma terapeuta sexual de casais que nunca teve um orgasmo, fato ao qual já justifica o sexo no longa. Entre seus pacientes estão James e Jamie, que mantém uma relação que já caminha para novas experiências: o sexo a três.Há ainda Severin, uma dominatrix que mantém sua vida em segredo e não se abre para as pessoas. Esses e outros personagens ainda mais excêntricos se encontram regularmente no Shortbus, um clube underground onde arte, música, política e sexo se misturam. São cenas longas e explicitas de sexo, orgias, autofelação logo na primeira cena, porém tudo se justifica, não são cenas que estão ali apenas pra causar furor, repugnância, ou qualquer outro sentimento negativo a obra, é o cotidiano vivido por cada personagem que envolve essa narrativa e exige tais cenas, muito bem dirigidas que chegam a ser estimulantes de tão belas. Porém a obra pode ser classificada como um drama erótico, mas o erótico não é explicito, o pornográfico sim, e por que não o definimos como, no popular, um filme pornô?


Em 2012 conheci a obra de Travis Matthews, I Want Your Love, com muitas cenas de sexo gay, o filme envolve a vida de Jesse que mora há muitos anos em São Francisco (o centro da cultura e da vida gay), mas como o custo de vida na cidade está alto demais, ele decide voltar à pequena cidade natal onde nasceu. Antes de partir, um grupo de amigos e antigos namorados organizam uma grande festa para levantar o moral de Jesse. Eles relembram as melhores e piores histórias vividas juntos. Precisa de explicação? São Francisco, ex-namorados, a forma como a cidade grande consome o ser humano, a oferta fácil de sexo, as tentações e ostentações, motivos que justificam a decisão do diretor em incluir o sexo explicito, a decisão em transformar a obra em algo mais real através dessa linguagem sexual se utilizando de várias cenas bem dirigidas, editadas e encaradas pelo elenco. Temos aqui mais um drama, que poderia ser um drama erótico, e ai caímos novamente na armadilha, se é explicito, por que não classifica-lo como pornográfico?

E eis que em 2013, o sexo vem com tudo e as últimas obras apresentadas seriam classificadas como eróticas ou pornográficas?


O francês Um Estranho no Lago (L’Inconnu Du Lac) rendeu a Alain Guiraudie o prêmio de direção no Festival de Cannes, e na minha concepção entre as barreiras descritas, o filme possui cenas escancaradas de língua no ânus, pênis na boca, e com direito a uma ejaculação gigante na tela.

Essa já seria uma obra pornográfica, facilmente encontrada em Sites de vídeos Eróticos, como os “XVideos da vida”, já que a trama ambientada no verão europeu, onde um lago é usado como praia nudista por vários homens homossexuais. Eles sentem-se à vontade no local e usam o bosque ao lado do lago para ter relações sexuais, leia-se, pegação geral. Um dos frequentadores mais assíduos é Franck, que um dia faz amizade com Henri, um homem solitário que vai ao lago em busca de paz, sem ter qualquer interesse em outros homens. Com o desenrolar dos dias e as conversas constantes, eles se tornam amigos. Só que Franck se apaixona por Michel, e um dia como outro qualquer, Franck observa escondido por entre as arvores Michel matar afogado seu antigo companheiro de sexo.

Com essa sinopse, o que se espera? Suspense, mistério, tensão. Mas não, diferente de sua definição categórica [Thriller Policial], não temos nem se quer investigações.

Ao demonstrar minha decepção por este filme numa resenha feita somente a ele que pode ser lida no link: http://migre.me/hh4e6 alguns amigos vieram manifestar sua opinião, alguns com o mesmo argumento “O filme mostra os perigos da ´pegação´, de se sair por ai transando com um desconhecido”, porém a trama poderia se passar numa boate, na rua, em um supermercado, e sem estender mais, o filme se tornou estereotipado, como se a vida gay fosse o lago, sexo, pegação, e não existisse uma vida fora dele, como se a vida gay se resumisse apenas a isso.


Chegando quase ao fim, tivemos o ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Azul é a Cor Mais Quente (La Vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2), que causou polêmica, lançou as atrizes Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux ao mundo e gerou em mim uma expectativa absurda em cima da produção, afinal são 180 minutos, e duas garotas se amando muito, muito mesmo, uma das cenas possui quase 10 minutos de sexo ininterrupto. Ao termino da projeção me deparei com algo que a minha ansiedade e curiosidade fizeram o filme se torna um belo e delicado drama sobre descobertas sexuais, perda, solidão, indecisão, o sexo apresentado, não tão escancarado como cheguei a imaginar, me indagou “Cadê todo o furor que tanto se falou?”, mas se temos sexo oral, penetração com os dedos, vaginas na tela, eu senti que a obra era um drama, e nem tão erótico, sendo que por rótulos e definições o filme seria um pornô lésbico?


Porém, como se esses exemplo não fossem suficiente, eu volto lá pro começo do texto, para Lars Von Trier que já causou furor em obras como Anticristo (2009) com Willem Dafoe ejaculando sangue depois de ser masturbado por uma insana Charlotte Gainsbourg, sem esquecer da belíssima cena de sexo entre os dois deitados nas raízes de uma imensa arvore ou da magistral cena de abertura, com os dois em pleno ato enquanto um bebê cai de uma janela. E agora o diretor volta para lançar a segunda parte de Ninfomaníaca, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 13, e continua a narrar o drama de Joe (mais um trabalho de Charlotte Gainsbourg com o diretor), uma mulher de 50 anos que decide contar a um homem mais velho (Stellan Skarsgard que também já trabalhou com o diretor em inicio de carreira no longa Ondas do Destino) sua história pessoal. Ela relata suas experiências ao longo de oito períodos da sua vida, marcados por diversos encontros e incidentes, sexuais ou não que a levam a crer e atentar convencer não só ao homem, mas também ao público, de que é uma pessoa ruim, inclusive por cometer tais obscenidades, vindo de Trier tudo é possível, e o diretor consegue criar algo que mesmo com o sexo explicito passa longe de ser uma obra pornográfica, mas sim o drama de mulheres que vivem assim como Joe, afinal, pode se considerar a ninfomania como uma doença, ou não? Seria considerada uma doença apenas para rotularmos mais alguma coisa que a sociedade nos impõe?

É erótico ou pornográfico, é sacana, obsceno, sem vergonha?

Ou seria apenas o dito cujo do rótulo que eu tanto deplorei, mas que no fim me encontrei por definir as obras citadas?

Ou seria apenas o sexo como arte na mais sua plena forma: nua e crua?

Precisamos de muitos anos mais para deixar essa caretice de lado, quebrar esses paradigmas e deixar que uma obra seja uma obra independente de seu caráter, sexual ou não.

[Confira a seguir os trailers da obras citadas no texto]
//NINFOMANÍACA [18+] (Distribuição: California Filmes)
)

//SHORTBUS [18+] (Distribuição: Filmes da Mostra)
)

//I WANT YOUR LOVE [18+]
)

//UM ESTRANHO NO LAGO [18+] (Distribuição: Imovision)
)

//AZUL É A COR MAIS QUENTE (Distribuição: Imovision)