Um bom filme sobre uma história real que parece até mentira
Por Cristina Gusmão
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(California Filmes) |
Eu, Tonya (I, Tonya), em cartaz nos cinemas, conta
a história real da patinadora artística Tonya Harding. Dirigido pelo australiano
Craig Gillespie (A Garota Ideal e o remake de A Hora do Espanto), o longa nos
traz nuances sobre a conturbada criação de Tonya e mostra com delicadeza, e
muitas vezes com humor ácido, os abusos psicológicos de sua mãe e o
relacionamento agressivo com o seu então marido, Jeff Gillooly.
A atuação de Margot
Robbie (do lixo ao luxo), que encarna Tonya, é impecável. Do terrível Esquadrão
Suicida para o Oscar e o Globo de Ouro, suas indicações em diversas premiações são
mais que merecidas. Allison Janney, que interpreta LaVona Harding, dá
um show de interpretação ao encarnar a mãe complexa e frustrada da patinadora,
atuação que lhe rendeu diversos prêmios e uma indicação ao Oscar de Melhor
Atriz Coadjuvante (e que com certeza deverá levar). Todas as ações de sua
personagem servem seu objetivo de transformar a filha na melhor patinadora dos
Estados Unidos, mas falta afeto por parte dela; aliás, o que mais falta à
personagem título é afeto. Portanto a garota “patinho feio” entre os cisnes
precisa se desdobrar para conquistar seu lugar ao sol, uma tarefa nada fácil.
Vale também ressaltar as atuações de Sebastian Stan na pele de Jeff Gillooly,
que administra muito bem as mudanças que o personagem apresenta no decorrer da
história, do romântico apaixonado ao agressor abusivo, e não podemos esquecer
do repórter sensacionalista Martin Maddox, interpretado por Bobby Cannavale, que
traz uma atuação ácida e ao mesmo tempo extremamente cômica em suas aparições
nos depoimentos reencenados nos quais o longa é todo baseado.
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Allison Janney está indescritível (Divulgação) |
O filme é bem construído,
desde sua primorosa e frenética edição (outra categoria à qual o filme concorre
no Oscar), que apresenta de forma meticulosa os principais acontecimentos da
vida de Tonya, de sua infância ao fatídico caso em que é acusada de mandar
quebrar a perna de sua colega Nancy Kerrigan. Deste momento até o desfecho, o
longa que se apresentava ora dramático, ora cômico, e ganha tons de cinema
policial, o que faz com que o espectador não desgrude da poltrona. A trilha
sonora é uma verdadeira delícia, com canções que marcaram os anos 1980, que vão
de Fleetwood Mac com The Chain, até Romeo and Juliet do Dire Straits, passando
por Supertramp com Goodbye Stranger e até Heart dá as caras com o hit
Barracuda, e não podemos esquecer de Devil Woman de Cliff Richard que retrata
bem a personagem LaVona. Já a trilha original composta por Jeff Russo e Peter
Nashel se funde de uma maneira tão interessante que ajuda o filme a fluir
facilmente durante suas 2 horas de duração.
Tratando com leveza
assuntos delicados, o filme é bom entretenimento, além de esclarecer pontos
importantes da vida de Tonya, que merece nosso respeito e reconhecimento por
ter alcançado uma grande notoriedade na patinação e ser a 1º patinadora
americana a conseguir concluir com êxito o salto triplo axel.