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Música: Lollapalooza Brasil 2018


Minha primeira experiência no Lollapalooza
Por Fabricia Toledo
(Fotos: Fabricia Toledo)

Resolvi me dar uma overdose adquirindo um Lolla Pass. Achei a experiência bem diferente de outro festival que adoro, Rock in Rio. Primeiramente pela localização: o seu "irmão" carioca possui um local fixo para o evento que já conta com uma excelente infraestrutura para eventos, além de ser um local plano. O Lolla precisa utilizar banheiros químicos e espalhar pequenas praças de alimentação ao longo dos morros do Autódromo de Interlagos que dificultam e muito a transferência do público de um palco para outro. Se faz necessário ter uma preparação física boa para curtir bem os 3 dias de festival, retomados esse ano. É bem cansativo! Fora a distância para chegar ao Autódromo. A estação não é ao lado, apesar de não ser longe, o caminho também tem suas subidas e leva em torno de 25 minutos. Apesar disso, a CPTM funcionou bem nesses 3 dias, atendendo as necessidades dos usuários que frequentaram os shows. Também foram disponibilizados linhas de ônibus especiais ao Terminal Santo Amaro e um aumento de carros em linhas comuns que atendiam o bairro. As saídas são todas bem sinalizadas pelo tipo de transporte que a pessoas iriam utilizar (incluindo apps de transporte e táxis). Enfim, apesar da boa estrutura neste ponto, é importante frisar que a localização do evento não ajuda.
A pulseira Lolla Cashless é uma ótima ideia. A entrada no show é feita de maneira rápida, assim como o consumo em todos os locais, comida, presentes... As filas, quando se formavam, eram bem rápidas (aprenda Rock in Rio!). Para finalizar esta parte, a infraestrutura, a organização cometeu um erro grave em colocar a banda Imagine Dragons em um palco menor. O show era um dos mais esperados do festival e estava extremamente lotado e com o calor excessivo, presenciei várias pessoas se sentido mal. Poderia tranquilamente estar no palco principal. 

O público do festival também é um pouco mais diverso do que em outros. Temos aquela vertente de “público Instagram”, o “público fada”, com suas tiaras de flores ou contas e glitter no rosto e outros visuais alternativos desde roupas montadas especificamente para o festival, passando por plumas, paetês e fantasias e aqueles que, como eu, sempre investem no básico. A galera também, de forma geral, joga lixo no lixo. A quantidade de resíduos em locais indevidos era até pequena comparado ao volume de pessoas que estavam por lá. 



Eu fui interessada em 4 shows do evento: Pearl Jam, Imagine Dragons, Liam Gallagher e Red Hot Chili Peppers. De adicionais a estes, assisti Khalid e David Byrne, além de trechos do Tropikillaz, Mano Brown e Milky Chance.De forma geral, o único show destes que vi que ficou abaixo dos outros foi o do RHCP. Apesar de não ter sido ruim, Anthony Kiedis errou algumas letras e tivemos muitos momentos que mais pareciam Jam Sessions, que eram bons, mas não para show de festival e com isso, hits como Scar Tissue não foram tocados. Apesar de que, para mim, não ver Jonh Frusciante tocando esta música é um sacrilégio. Josh Klinghoffer é um guitarrista nota B- e foi dele um dos pontos altos da apresentação cantando Menina Mulher Da Pele Preta do Jorge Ben. Flea é o diferencial sempre, ao contrário do seu frontman, é empolgado, fala com o público e traz as pessoas para o show. Foi um show ok. Ouvir Under the Bridge, uma das minhas canções favoritas, ao vivo foi extremamente gratificante e um dos pontos altos do show. E, ainda por cima tivemos uma música inédita em terra brasilis, Aeroplane, mas ainda senti que faltou algo no palco Budweiser: Carisma.



Já bem diferente do RHCP, no sábado, os 3 shows que acompanhei de perto, e o que acompanhei de longe também, tiveram carisma e qualidade musical. David Byrne tem junto de si uma banda excelente, inclusive com 3 brasileiros, que toca e dança junto com ele todo o tempo. E tocam muito bem. O cantor ainda tocou 3 sucessos de sua antiga banda Talking Heads além de sucessos solo, arrebatando um publico jovem, que esperava pela atração seguinte do palco Ônix, Imagine Dragons. Foi muito aplaudido no fim do show e, durante, muitas pessoas dançavam e ensaiavam coros dos refrões. Após esse show maravilhosamente gostoso de assistir, ouvi parte do show do Mano Brown e seu trabalho solo Boogie Oogie, que é muito diferente musicalmente do rap pesado dos Racionais Mc’s. Tivemos um Brown leve e divertido que até levou a galera a dançar com gingando e suingue da disco e soul music. Os aplausos finais do seu show foram um pouco misturados com os que gostaram do show e os que queriam que acabasse logo, pois, como o palco Axe é extremamente próximo ao palco Ônix, os show eram intercalados. Mano Brown deu tchau com seu baile e Dan Reynolds e sua trupe entregaram um dos melhores shows do festival. Imagine Dragons não pode mais ser considerada uma simples banda indie, uma vez que já mudou de patamar há alguns anos e o show superlotado só comprovou isso. Poderá até ser headliner do festival nos próximos anos, o que certamente irá acontecer. Todas as canções foram cantadas em uníssono, e Dan ficou extremamente emocionado com a interação do público. A banda já tinha comentado em entrevista ao jornal Destak que seu melhor show tinha sido no Brasil. Depois de sábado acredito que mantivemos o posto. O vocalista já tirou a camisa logo na segunda música, foi pra galera, fez discurso político sobre a questão do desarmamento nos EUA (no dia 24/03, ocorreu uma série de eventos de protesto à atual legislação americana sobre porte de armas), falou sobre depressão antes de cantar Demons, colocou a bandeira LGBT no palco, carregou Daniel Wayne, guitarrista da banda, no colo durante um solo... Resumindo: envolvente, emocionante e redondo na questão de instrumental. Passou tão rápido que muita gente nem percebeu que estava chegando ao fim. E Dan já foi promovido a Crush na minha vida!


Agora, vamos para o meu show favorito do festival: Pearl Jam, a única banda de grunge que resistiu ao tempo e alcançou patamar de banda clássica de rock. Tivemos o problema de faltar música? Sim, mas não tem como uma banda como essa, mesma questão do RHCP, tocar todos os seus hits. Porém, mesmo com ausência de Daughter, I am Mine, Rearviewmirror ou Last Kiss, por exemplo, tivemos mais um show envolvente, com o Eddie bem solto falando em português entre um gole de vinho e outro (o cantor teve o cuidado de escrever algumas frases em português para interagir com o público). Chamou Perry Farell para cantar Montain Song da sua banda Jane’s Addiction, após, claro, um “parabéns pra você”, pois era aniversário do idealizador do festival. Também falou do March of Our Lives que havia ocorrido durante o dia nos EUA, falou que o Brasil tinha problemas semelhantes, fizeram covers de Talking Heads (com direito a chamar David Byrne de gênio), The Who e Pink Floyd. Pura nostalgia! O público veio abaixo em vários momentos, principalmente nas canções do álbum Ten como Even Flow, Black, Jeremy e Alive e na mais novata Sirens, mas não ficou longe de se entregar totalmente nas outras. Energia e sinergia total do público e dos jovens senhores do rock. Neste show, a canção que mais esperei ouvir foi Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town, minha música favorita da banda. Teve lugar para uma música nova, Can’t Deny Me, que foi devidamente cantada pelo público, claro que sem a mesma eficácia dos clássicos. Eu que já estava totalmente empolgada com o show anterior, saí extasiada deste sábado de Lolla. 

Domingo, fui focada em aproveitar as experiências do evento. E assim o fiz. Roda Gigante, estande de patrocinadores, descolei alguns brindes do evento, que serão devidamente guardados como lembranças de um excelente final de semana. Finalizei meu Lollapalooza vendo um pedaço de Milky Chance, que particularmente não conhecia, mas achei decente, após mais um trechinho de outro artista, Tropikillaz, que levou o funk ao palco Axe, levantando parte do público que esperava por Lana del Rey no palco Ônix e revelou futura parceira com Major Lazer. E falando deste palco, tivemos o novato Khalid levando seu R&B fofo e muita simpatia na sua quase timidez e também ligeiramente emocionado como grande público que cantou com ele quase todas as músicas.



Ao término deste show, fui ver um dos meus brigões favoritos: Liam Gallagher. A galera estava com medo, de forma geral, de que o show fosse ruim, já que ele sempre intercala boas e más apresentações. Mas no decorrer do show, fomos ficando aliviados além de termos sido agraciados com hits do Oasis (Liam e Noel, voltem com esta banda pelo amor dos deuses do Brit Pop). E como já era de se esperar, o público do Palco Budweiser em peso cantou Wonderwall inteirinha (e sim, meu momento do show, porque esta é minha música favorita do Oasis) ainda tivemos Supersonic e Live Forever no final. As músicas solo do cantor, foram cantadas, mas com menos euforia. Não era o Oasis, mas foi quase. A interação dele com o público é aquela passivo-agressiva de sempre que já conhecemos bem e que aceitamos desde dos anos 1990.  A voz, motivo do cancelamento do show solo em SP, que rendeu pedido de desculpas, não foi problema. Mais um show que fiquei feliz de ter escolhido ver. Mas, nesta hora, todo o cansaço dos 3 dias de evento bateram. Wiz Khalifa e The Killers ficaram para uma próxima.

Para contextualizar, o festival foi criado em 1991 por Perry Farrell, com mais 3 sócios, como uma turnê de despedida do Jane's Adiction (do qual Perry era vocalista) e percorreu várias cidades americanas e canadenses, apresentando vários artistas "indies" durante todos esses seus anos de existência, que viriam ser parte do Mainstream da música como Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam, Muse, Smashing Pumpkins, The Strokes, Lady Gaga, Fun, Foo Fighters. Aqui no Brasil, o festival começou em 2012, no Jockey Club e antes, em 2011, estreou na América do Sul em Santiago do Chile. A partir de 2014, o festival passou a ser realizado no longínquo Autódromo de Interlagos.


Hoje, não se pode mais dizer que o Lolla é um festival só de artistas indies, apesar de grande parte do seu line-up com mais de 70 nomes ser formado por eles. Antes de tudo, um festival deste tamanho precisa se pagar. Para tal, precisa de público. Por isso, que ano após ano observamos que temos cada vez mais artistas renomados no line-up do evento. A exemplo do Rock in Rio, o Lolla precisou se reinventar. E aparentemente, esse ano conseguiu com sucesso, alcançando sold out em 3 dias de evento e levando cerca de 300 mil pessoas que se divertiram muito em Interlagos. Que venha 2018! Eu já vou retomar a academia para aguentar o tranco ano que vem!