Quando a sinopse de "Creed II" foi revelada, creio que passou pela cabeça de todos que a trama central do filme seria sobre vingança, visto que teríamos o confronto do filho de Apolo Creed (Carl Wheaters) e o filho de Ivan Drago (Dolph Lundgren). E os primeiros minutos do filme acabam até alimentando essa expectativa. Mas não por muito tempo, ainda bem!
"Creed II" é antes de tudo um filme sobre a jornada do autoconhecimento, sobre o que você busca para sua vida, sobre aceitação. Michael B. Jordan nos entrega um Adonis Creed que apesar de vitorioso, ainda não se encontrou totalmente em sua carreira como lutador de boxe profissional. As sombras de seu pai e de seu "tio", Rocky (Sylvester Stalone), ainda o perseguem de certa maneira, e apesar de estar iniciando um bom cartel, suas lutas parecem que não possuem uma marca, uma diferenciação.
O relacionamento de Adonis com Bianca (Tessa Thompson) me remeteu muito ao de Rocky com Adrian com ela sendo o porto seguro do lutador em diversos momentos e a constituição de sua família serve de suporte a essa jornada de autoconhecimento. Rocky continua sendo uma sábia figura paterna para Adonis, mesmo que por momentos ele não aceite isso. Stallone ainda nos emociona com seu Rocky e seus conselhos sábios e pontuais. Do outro lado, temos o retorno de Ivan Drago. Desta vez o ex-pugilista, derrotado por Rocky, se espelha em seu filho, Viktor Drago (interpretado pelo estreante, o lutador profissional Florian Munteanu). Os dois tem trabalhos ordinários na Russia e foram abandonados por Ludimilla (Brigitte Nielsen) há muitos anos devido a falta de prestigio. Viktor é um excelente boxeador e Drago pai vê em seu filho uma oportunidade de voltar aos dias de glória. Já o filho quer somente agradar o pai, Viktor só quer ver o pai feliz. Ele não está em busca de glórias ou coisas do gênero. Florian, em seu primeiro papel, entrega o necessário para termos empatia por seu antagonista, tanto que não conseguimos torcer contra ele após este entendimento.
Em meio da trama principal, que gira em trono de confronto de Creed X Drago, todos os personagens coadjuvantes também passam por jornadas próprias, e talvez ai tenha uma das poucas falhas do filme, já que a trama envolvendo a família de Drago, que é interessante, acaba sendo tratada de maneira mais superficial do que merecia.
A fotografia do filme, principalmente em cenas externas está muito bonita. Há uma mistura de tipos de enquadramento (sendo o plano médio, geral e americano os principais) que nos proporciona vivenciar o belo cenário escolhido por Don e Rocky para o treinamento derradeiro e ao mesmo tempo, sentir toda a carga física e emocional de trabalho que Michael B. Jordan, que se preparou muito bem para o papel, quer demonstrar com sua interpretação de muita entrega.
O diretor Steve Caple Jr. acerta na maneira de filmar as lutas. Usando uma técnica distinta da usada por Ryan Coogler, que optou por uma filmagem mais bruta, onde nos sentimos como um dos lutadores, Steve preferiu usar drones, filmando as lutas por uma outra perspectiva, que nos dá a sessão de estar ali, na plateia torcendo pelos pugilistas. O 3º ato do filme, onde ocorre a luta final entre os filhos rivais, acaba sendo um momento catártico do longa. Um bastidor interessante envolvendo esta luta, os atores, após o termino da gravação da cena se abraçaram no meio do ringue e choraram tal foi a emoção que os envolvia.
"Creed II" é um bom capitulo de uma grata surpresa que foi este resgaste de Rocky. Stallone passa o bastão de seu personagem icônico a Jordan que consegue entregar em seu Adonis alguém com quem verdadeiramente nos importamos, tal qual era com o lutador ítalo-americano. A volta da família Drago serve como um bom pano de fundo para tratar os temas já familiares aos que conhecem a franquia Rocky e aos novos fãs que surgiram com "Creed". Redenção, busca do que verdadeiramente importa, auto conhecimento... e como na maioria das vezes na franquia, funcionam muito bem em conjunto.
Veja trailer do drama a seguir: