Cinema | [Especial!] Conversamos com o diretor de "The Flash", Andy Muschietti
Quadrinhos | A origem de Miles Morales nas HQs, por Jackie Cristina
Cinema | [Exclusivo!] Charlize Theron comenta sobre a franquia "Velozes e Furiosos"
Cinema | Warner Bros. inicia a pré-venda de ingressos para "The Flash"
Cinema | "Five Nights At Freddy's - O Pesadelo Sem Fim" ganha teaser inédito e arrepiante
HQ | Conheca "Brzrkr", que conta com participação de Keanu Reeves!

Resenha: “Os Despossuídos” de Ursula K. Le Guin

Foto por Jack Liu

Com assuntos atuais, "Os Despossuídos" se prova uma obra atemporal 
Por Pedro Soler

Nascida em 1929, Ursula K. Le Guin é uma das escritoras mais aclamadas e respeitadas da literatura de fantasia e ficção científica. Sua influência é tão grande que inspirou grandes nomes como Neil Gaiman e J. K. Rowling. Entre alguns prêmios que ela ganhou estão 7 Hugo Awards, 6 Nebula Awards e 22 Locus Awards. Apesar de ser menos conhecida, alguns críticos dizem que Le Guin contribuiu tanto quanto J. R. R. Tolkien para a literatura fantástica.

Seu livro "Os Despossuídos", ganhador dos prêmios Hugo e Nebula, é uma verdadeira obra de arte da ficção científica. Nesta história encontramos dois mundos: Anarres, um planeta inóspito que pode ser comparado à Lua; e Urras, um planeta cheio de vida e riquezas que seria a Terra. Décadas antes da história, um grupo de pessoas fugiu de Urras para Anarres por discordar da cultura de posse e ganância que dominava todo o planeta. Essas pessoas, apesar das condições severas encontradas, criaram uma utopia anarquista auto-suficiente.

Esse evento criou cicatrizes profundas na relação entre os planetas onde, marcados pela desconfiança, quase não há comunicação. No começo do livro conhecemos Shevek, um brilhante físico de Anarres, que está prestes a se tornar um pária ao fazer algo que todos consideram um absurdo: viajar para Urras.

"Shevek vagou pela estação, atravessando quilômetros de mármore polido sob aquela imensa abóboda etérea, e por fim chegou a uma longa série de portas através das quais multidões iam e vinham constantemente, todas apressadas, todas separadas. Todas lhe pareceram ansiosas."

A partir dessa viagem e o choque entre as culturas, Shevek reflete sobre inúmeras questões que ultrapassam o papel e nos levam a questionar a própria sociedade em que vivemos. Essas observações nos permitem repensar conceitos como o amor, política, feminismo, ciência, conhecimento, anarquia, socialismo e capitalismo. E não foi a toa que, terminada a leitura, “Os Despossuídos” se tornou um dos meus favoritos.

Utilizando o tom reflexivo daquele que vê algo inédito e precisa que conceitos simples, como posse, sejam explicados detalhadamente, acabamos realmente enxergando-os pela primeira vez. Como crescemos em uma sociedade com bases sólidas, existe muita coisa que aceitamos sem pensar. Coisas que aprendemos quando não éramos capazes de questionar e, agora que somos, não o fazemos por já aceitar que as coisas são assim. Um dos pontos mais importantes e fantásticos do livro reside em não apontar certo ou errado durante os diálogos, mas em focar na comparação entre as culturas e nos pontos de vista das personagens.

“Foi a primeira vez que pediram a Shevek, em Urras, para descrever Anarres. As crianças faziam as perguntas, mas os pais ouviam com interesse. Shevek deixou o modo ético de lado com algum escrúpulo; não estava ali para doutrinar os filhos de seu anfitrião.”

Munida dessa ausência de julgamento, a obra mostra o motivo de ter merecido os prêmios ao levantar aspectos da humanidade que precisam de reflexão com a sutileza de um olhar inocente. Um olhar que estamos precisando nos dias atuais.