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Séries | "Todxs Nós", muito além do pronome (Resenha)

Rafa, Maia e Vini, personagens que tem muito a dizer | Divulgação/HBO

Série estreia em um momento importante, ensinando e desmistificando diversas questões de um universo tão plural

Por Jurandir Vicari | Revisão: Paulo Costa

Ouvi falar da série "Todxs Nós" na CCXP, em 2019, durante um painel sobre Diversidade. Que contou com a presença dos protagonistas: Clara Gallo (Rafa), Kelner Macêdo (Vini) e Juliana Gerais (Maia) e dos criadores e diretores Vera Egito ("Amores Urbanos") e Daniel Ribeiro ("Hoje Eu Quero Voltar Sozinho").

Eles nos contam que a comédia dramática é uma ideia que surgiu em 2016, e só foi produzida agora. Esta temporada conta com oito episódios de aproximadamente trinta minutos trazendo como carro-chefe a discussão sobre a binariedade das pessoas, mas não fica só nisso, e também abrange outros conflitos da comunidade LGBTQIA+.

Outra informação que me chamou a atenção foi o fato de que, 1/3 dos atores escalados são transgêneros, informação que deve ser celebrada. A equipe de roteiro e de questões técnica também conta com pessoas de diferentes etnias e orientação sexual, salienta a diretora durante o citado painel.

O ator Kelner Macêdo, comentou a dificuldade do uso do pronome neutro para designar pessoas não-binárias e o estudo que todo o elenco teve que fazer sobre este fato. E contou a dificuldade que seu personagem tem em relação a isso.

Vera Egito e Daniel Ribeiro, em um dos principais cenários da série | Divulgaçao/HBO


A série, uma produção Original HBO Latin America, foi lançada em março deste anos e, após assistir todos os episódios, digo que realmente, vários temas de grande importância foram abordados, mas nem todos tão aprofundados.

A binariedade de Rafa, o uso dos pronomes neutros e o desenvolvimento e crescimento da personagem tem um potencial enorme. Enquanto eu ia conhecendo tal personagem pude observar que Rafa também estava se conhecendo. Se muda de Botucatu, cidade do interior de São Paulo, para a capital, em busca de seus sonhos, passa a visualizar que apesar de não ter sua sexualidade respeitada tem o privilégio de ser uma pessoa branca e bancada pelo pai, mesmo que este seja o principal não aceite e respeitar sua sexualidade. Mesmo que as vezes agindo de formas erradas, não desiste de seus sonhos. Graças a esta personagem, vamos conhecendo mais pessoas trans e não-binários que trazem uma grande contribuição ao enredo.

O feminismo e o racismo é abordado no dia-a-dia da personagem Maia. Ela vê o desrespeito na empresa em que trabalha, na maneira que eles lidam com uma denúncia de abuso sexual, a forma que a família a vê por gostar de homens brancos e, principalmente, na dificuldade de um negro conseguir emprego, ainda mais em uma area predominantemente masculina e de pessoas brancas.

Combater os estereótipos do universo gay e aceitar a pluralidade da comunidade LGBTQIA+, sobra para o personagem Vini. Como o próprio se define "o gay heteronormativo", que tenta se desconstruir ao longo dos oito episódios. Ele que não busca relacionamento aberto, se preocupa com sexo seguro,  tem dificuldades em aceitar, compreender e aprender como agir com Rafa, e prefere muito mais os números que as artes cênicas, afinal, ao tentar ser do mundo das artes sofre constantes frustrações.

Vini, Maia e a família de Rafa, preconceitos internos são os que primeiro devem ser desconstruidos | Divulgação/HBO


A cidade de São Paulo se torna uma personagem, tão importante quanto o trio de protagonistas, exercendo seu fascínio para todos quem busca um novo começo nessa Metrópoles. A cidade é a narradora observadora, que tão orgânica quanto os indivíduos que a habita, nos apresenta cada sentimento vivido nos cantos desta selva de pedra.

O roteiro que começa bem raso, aparentemente como uma simples comédia, vai se aprofundando e se modificando conforme os destinos dos personagens vão ganhando alguns tons melancólicos de maturidade, de uma crescimento interior. Por que alguns assuntos sejam só pincelados, podem ser melhor explorado numa próxima temporada.

O caráter educativo tende a diminuir um pouco o ritmo de algumas cenas, parecendo até mesmo didático demais, porém, tal forma de abordagem se faz necessário! Esfria um pouco, para depois aquecer com humor, cenas um tanto quando ousadas e picantes e claro, carregada de muita informação.

A temporada que chegou ao fim no domingo, 10 de maio,  tem algumas reprises no canal HBO, mas se você preferir maratonar já está disponível na plataforma HBO Go e, se eu fosse você daria uma olhadinha, nem que seja só pra aprender um pouco mais sobre este universo tão plural.