Leve e descompromissado, "The Commitments" é um dos melhores filmes dos anos 90 e também da carreira de Alan Parker
Por Rodrigo Fidalgo | Revisão: Paulo Costa
Na última
sexta-feira, 31 de Junho, infelizmente perdemos um dos grandes diretores do
cinema contemporâneo: Alan Parker, que faleceu aos 76 anos. A
causa não foi revelada pela família.
Alcançou
grande destaque no final dos anos 70, surgindo junto com uma geração de
cineastas britânicos que conseguiram aliar sucesso de público e respeito da
crítica, entre eles Stephen Frears, Ridley Scott, Hugh Hudson e Neil Jordan,
entre outros...
Nos últimos
anos se afastou do cinema e estava se dedicando à pintura. Seu último filme foi
“A Vida de David Gale” (2003), curiosamente o mais fraco de todos. Nem de
longe conseguimos compará-lo a obras-primas como “O Expresso da Meia-Noite”
(1978), “Pink Floyd: The Wall” (1982) ou “Coração Satânico”
(1987). Até perto de outros filmes mais comerciais como “Fama” (1980) e “Evita”
(1996) ele sai perdendo...
Parker e Madonna nas gravações de "Evita" | Divulgação |
Parker foi indicado
duas vezes ao Oscar: em 1979 pelo “O Expresso da Meia-Noite” e dez anos depois por “Mississipi em Chamas”
(1988), alem de outras inúmeras indicações no Festival de
Cannes e ao BAFTA (British Academy Film Award, a mais
importante premiação britânica do cinema), ganhou a Palma de Ouro em Cannes
pelo impactante “Asas da Liberdade” (1984) e o BAFTA por “The Commitments - Loucos Pela Fama” (1991) como melhor diretor e melhor filme.
A propósito,
é sobre este “The Commitments” que
irei falar hoje, adaptado de um livro do escritor Roddy Doyle, autor que já teve alguns títulos publicados no Brasil
(como por exemplo “O Furgão”, que também virou filme pelas mãos do já
citado Stephen Frears).
Dirigindo de maneira leve e descompromissada, Parker conta de uma forma extremamente bem-humorada a história de Jimmy, um jovem fissurado por soul music que quer se tornar empresário de uma banda. Começa contratando músicos iniciantes pelo bairro e tudo vai bem, montando o Commitments, ensaiando e conseguindo inclusive alguns lugares para tocar... até que os “egos” aparecem e Jimmy se dá conta que as coisas não serão tão simples.
Mesmo tendo
sido realizado no início da década, é um dos filmes mais incríveis dos anos 90!
Afinal, é difícil para qualquer obra realizada no início de uma década ser
lembrada no final dela... Mas “The Commitments - Loucos Pela Fama” precisa obrigatoriamente aparecer em
qualquer lista de “melhores dos anos 90” que se preze!
Contando
apenas com músicos e atores amadores ou em início de carreira, com uma trilha
sonora extremamente saborosa regada à clássicos dos anos 60, o cineasta consegue dar
um imenso tom de veracidade ao filme.
Entre as músicas tocadas durante as 2 horas de projeção
temos “Try a little tenderness” de Otis Reeding, “Take me to the river” de Al
Green, “Mustang Sally” e “In the midnight hour” de Wilson Pickett e “I never loved a man” e “Chain
of fools” de Aretha Franklin,
entre várias outras pérolas…
A química
deu tão certo que três dos integrantes do Commitments resolveram manter a fictícia banda. E o grupo Stars from The Commitments
saiu em turnê! Inclusive tocando no Brasil em 1996 e em 2010.
O elenco
original se reuniu em 2011 em comemoração aos 20 anos do filme e também saiu em
turnê:
Entre os
atores/músicos em início de carreira contratados para o filme está Andrea Corr, com 17 anos de idade, fazendo
o papel de Sharon Rabbitte, irmã do protagonista, vivido por Robert Arkins. Depois de alguns anos ela estaria em turnê
mundial com suas duas irmãs e seu irmão na banda que leva o seu sobrenome: The Corrs.
Glen Hansard é outro que aparece, fazendo o papel
do guitarrista do grupo. Para quem não se lembra dele: em 2006 Hansard atuaria
em “Apenas Uma Vez”, ganhando o Oscar de melhor canção pelo mesmo longa-metragem.
Apesar de
ter um final um tanto quanto “amargo”, é impossível não terminar o filme com um
sorriso de orelha à orelha, com vontade de sair dançando com a trilha sonora.
(Alguém aí se lembrou de “The Blues Brothers - Os irmãos cara-de-pau”?). Poucos
diretores conseguem tal proeza, e Parker foi um deles.
Vai fazer
falta...