Cinema | [Especial!] Conversamos com o diretor de "The Flash", Andy Muschietti
Quadrinhos | A origem de Miles Morales nas HQs, por Jackie Cristina
Cinema | [Exclusivo!] Charlize Theron comenta sobre a franquia "Velozes e Furiosos"
Cinema | Warner Bros. inicia a pré-venda de ingressos para "The Flash"
Cinema | "Five Nights At Freddy's - O Pesadelo Sem Fim" ganha teaser inédito e arrepiante
HQ | Conheca "Brzrkr", que conta com participação de Keanu Reeves!

Séries | "Boca a Boca", por Jurandir Vicari (Resenha)


Esteticamente impecável e com roteiro audacioso, produção brasileira de baixo orçamento não fica devendo em nada a séries estrangeiras

Por Jurandi Vicari | Revisão: Paulo Costa

"Boca a Boca", a mais recente série brasileira Original Netflix, estrou no serviço de streaming em 17 de julho e, ao ler a sinopse sobre uma doença contagiosa, achei que neste momento de pandemia não seria a melhor opção para assistir e deixei pra lá, mas um amigo insistiu muito para que eu desse uma chance e então resolvi assistir, resultado: eu AMEI!

A série mesmo se utilizando de um tema um pouco batido ainda mais neste momento atual que vivemos, consegue ser muito criativa, bem elaborada, pensada e até mesmo inusitada. Deixe de lado qualquer preconceito por parecer se tratar de uma série "teen" ou por ser um produto nacional, abrace o lado trash dessa produção, que você não irá se arrepender. O resultado final que o programa chega as nossas mãos é perfeito.

Se lançada antes desta pandemia acharíamos o roteiro muito fantasioso ou forçado, mas vivendo em uma falsa quarentena, onde uns continuam isolados e outros sequer conseguem usar uma máscara, em total desrespeito com o próximo, o tema se faz bem pertinente e muito necessário. 

A trama se passa na cidade fictícia de Progresso, onde alguns minutos depois do play, já notamos que é um nome bastante irônico para o lugar. E é neste ambiente interiorano, pacato e conversador, que está ocorrendo a transmissão de uma misteriosa doença que deixa o infectado com os lábios roxos e veias saltadas em cores neon. Como a desinformação é geral, vários teorias vão sendo criadas, o que eleva o nível de suspense e valoriza muito o roteiro, que entre os roteiristas temos Juliana Rojas, que trabalhou no roteiro e direção de filmes de terror elogiados como "As Boas Maneiras" e "Trabalhar Cansa", em parceria com Marco Dutra. Sem maiores informações sobre a tal doença, os acontecimentos nos leva obrigatoriamente a fazer comparações com o Covid-19.

Iza Moreira, Caio Horowicz e Michel Joelsas, o trio de jovens protagonistas | Divulgação

Deixando de lado a trama envolvente, é preciso falar sobre outro ponto alto da série: o elenco. Com uma boa mistura de gerações e de atores da cena independente com algumas rostos já conhecidos do público, todos parecem ter sido escolhido a dedo. Os jovens são cativantes e destemidos, enquanto que os mais conhecidos e experientes participam para coroar o seu talento. O trio protagonistas é composto pela estreante Iza Moreira, Michel Joelsas que estreou nos cinemas em 2006 no longa "O Ano em que Maus Pais Saíram de Férias" e mais recentemente esteve no premiado "Que Horas Ela Volta?", e Caio Horowicz que esteve em "Califórnia", de Marina Person, e recentemente interpretou o personagem Marcello, no filme e na série biografia sobre a apresentadora Hebe Camargo, uma aposta mirim das produções recentes que também marca presença é Kevin Vechiatto que interpretou o Cebolinha no fofíssimo "Turma da Mônica: Laços". Da cena independente marcam presença Thomás Aquino (o Pacote, de "Bacurau") e a atriz, diretora, roteirista e dramaturga Grace Passô ("Praça Paris", "Temporada" e "No Coração do Mundo"). Entre os nomes mais conhecidos estão Denise Fraga, Bruno Garcia e Bianca Byington. O criador do show, Esmir Filho ("Os Famosos e os Duendes da Morte"), consegue tirar o melhor de cada um desses mundos.

O visual explorado na fotografia, figurinos e nos efeitos especiais, apesar do baixo orçamento, são grandiosos e nos tocam sejam pra emocionar ou empolgar, como nas cenas nas festas que usa e abusa de cores fortes, de muito neon, além de muita sensualidade e erotismo, com pitadas fetichistas. Esteticamente falando, é tudo muito bem trabalhado e o resultado em tela chama muito a atenção.

Mas voltando a falar da trama, a doença, que deveria ser a grande vilã,  no final das contas é só um pano de fundo, ou melhor dizendo, é um espelho onde reflete os diversos tipos de preconceitos das personagens, seja homofobia, racismo, classicismo, etc.

Assim como me recomendaram, eu também recomendo que você assista, pois não estará apenas dando audiência a uma produção nacional de qualidade, mas sim uma série muito boa que não fica devendo em nada a produções gringas! Valorize um produto tipicamente tupiniquim e ajude-a a se destacar de milhares de outras disponíveis nos streamings, e a melhor propaganda é o famoso "Boca a Boca".