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Cinema | "Bela Vingança", Resenha por Paulo Costa



Uma ousada, contundente e reflexiva crítica ácida sobre a cultura do estupro, onde quase sempre a culpa é da vitima

Por Paulo Costa


Em temporada de premiações é sempre aquela correria para assistir aos filmes indicados e acho que comecei a maratona do Globo de Ouro pelo filme errado (ou então pelo mais certeiro)... Não quero ver mais nada depois deste "Bela Vingança" (Promising Young Woman), aquele tipo raro de filme que surge de tempos em tempos.

Carey Mulligan está indescritivelmente perfeita e entrega uma atuação absurdamente assustadora, que trafega entre o delicado e o sombrio, com mudanças comportamentais em um trabalho corporal e facial visceral. Laverne Cox foi uma grande surpresa, com uma atuação certeira, sendo dramática quanto necessária, sendo o alívio cômico quando preciso, e entregando uma personagem com muito a dizer nas entrelinhas, inclusive sobre a personagem de Mulligan, a "jovem promissora" Cassandra Thomas, Cassie para os mais íntimos. Elenco ainda conta com participações de peso de Alfred Molina, Jennifer Coolidge, Alison Brie, Adam Brody e Bo Burnham.

Na trama, Cassie é uma mulher com muitos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e finge estar bêbada. Quando homens mal intencionados se aproximam dela com a desculpa de que vão ajudá-la, ela entra em ação e se vinga dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la e o mau caráter de tentar abusá-la. Contudo, um dos traumas que gerou um grande sentimento de culpa e remorso vem a tona, o que faz com que Cassie comece sua vingança atrás de um a um que dos culpados.




A direção e o roteiro assinados por Emeral Fennell - o nome por trás de sucesso televisivo "Killing Eve" - marcam sua estreia nas telonas e é algo tão peculiar e meticuloso que consegue entregar uma obra poderosa e ao mesmo tempo fazer uma ousada, contundente e reflexiva crítica ácida sobre a cultura do estupro, causando espanto e deixando o espectador de estômago revirado, com uma personagem que abre um leque de discussões, inclusive onde quase sempre a culpa é da vitima. Sem colocar uma única gota de sangue que seja, tudo ali é psicológico, e quando há alguma violência gráfica em cena, ela se justifica por si só. Ainda assim, a trama consegue, em boa parte, principalmente no final do primeiro ato ser muito sensível e tocante, o que nos leva a descansar um pouco antes do nocaute que nos deixa na lona do segundo ato até seu desfecho magnificamente orquestrado.

Ao lado de Fennel, a atriz Margot Robbie ("Aves de Rapina") é uma das produtoras do filme que tem estreia prevista nos cinemas nacionais em março.

A trilha sonora é a cereja do bolo, e traz conhecido canções como Angel Of The Morning, 2 Become 1 das Spice Girls e até Stars Are Blind de Paris Hilton, além de uma nova roupagem para o hit It's Raining Men por DeathbyRomy marcam presença ao longo da trama. A trilha instrumental composta originalmente para o filme assinada por Anthony B. Willis, também é algo bem peculiar, o que inclui um arranjo para Toxic de Britney Spears, que ganha uma versão sem vocal toda orquestrada no violino que combinada com a cena é de gelar a espinha e levar o espectador ao mais alto nível de tensão.




A fotografia e a direção de arte também fazem parte desta narrativa, navegando entre o inocente, o lúdico e o brutal, a paleta de cores brinca muito com tons pasteis intercalados com cores mais pesadas trazendo o nível de dramaticidade exigido em cada cena, os objetos de cenografia, ou até mesmo as locações, inclusive externas com florestas e cabanas, trazem uma certa sensibilidade, a doçura de um conto de fadas, mas sem perder o peso de uma trama assustadoramente realista.

"Bela Vingança" é um dos suspenses psicológicos mais incríveis e de certo modo perturbador que já vi na vida. Com certeza ficarei pensando nele por muitos e muitos dias.

Filme concorre no Globo de Ouro nas categorias: Melhor Filme de Drama, Atriz Drama (Carey Mulligan), Direção (Emerald Fennell) e Roteiro, mas merecida também ser indicado a Trilha Sonora.