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Cinema | "Vento Seco", por Jurandir Vicari


Transborda sexualidade e fetichismo ao mesmo tempo em que recria infinitas reflexões cotidianas

Por Jurandir Vicari


Depois de uma bem sucedida passagem por importantes festivais de cinema LGBTQIA+ do mundo todo, como o Festival Mix Brasil e o Festival de Berlim, além de prêmios bastante significativos como o de Melhor Ator para Leandro Faria no Iris Prize em Cardiff e o de Melhor Filme no Chéries-Chéris Film Festival em Paris, o longa nacional "Vento Seco" chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 05 de agosto.

Roteirizado e dirigido por Daniel Nolasco, de prestigiados trabalhos como os documentários "Mr. Leather" (2019) e Paulistas (2017), o enredo apresenta Sandro, que vive uma vida bastante monótona, entre trabalho, natação e sexo anônimo, na extensão quente e árida de Goiás no Brasil. Até o dia em que Maicon, um desenhista de quadrinhos de Tom of Finland, aparece em sua pequena cidade, e transforma sua vida para sempre.

Ao longos de seus 110 minutos, o cineasta utiliza como cenário a cidade de Catalão, interior de Goiás, conhecida pelo seu clima árido, para ajudar a demonstrar a dificuldade dos relacionamentos homossexuais no interior, mas que apesar de encontrar suas barreiras eles existem. Assim como a existência de pessoas LGBTQIA+ longe dos grandes centros é usado como uma superstição, também é trabalhado o tabu sobre a nudez frontal masculina e as relações sexuais entre dois homens, demonstrando em tela algumas práticas sexuais, muitos enquadramentos focando nos membros masculinos formando protuberâncias em sungas apertadas ou de forma mais explicita durante cenas de banho, assim como o pênis ereto em determinado momento, tornando esse filme de difícil digestão para os mais conservadores, a famigerada "família tradicional brasileira", por assim dizer.

Estética ousada que explora os mais variantes aspectos da sexualidade masculina | Divulgação


Os mais diferentes fetiches são apresentados de forma nua e crua, se apropriando de uma deslumbrante estética que mistura o rústico com cores bem quentes, temos em cena, toques de neon, muito couro, "ursos", sexo em locais públicos, e sempre com uma estonteante fotografia assinada por Larry Machado. De imediato isso pode parecer apelativo, mas com o decorrer do tempo o objetivo fica mais explicito, que é não se encaixar nos padrões heteronormativos, mas sim escancarar todos os aspectos da sexualidade masculina.

A trilha sonora bastante eclética, assinada por Natalia Petrutes, é outro ponto forte presente nas qualidades técnicas, misturando o drama de Maria Bethânia, com uma batida mais moderninha de Thiago Petit, somado a umas pitadas de eletrônico com French 79, o sertanejo também marca presença, inclusive por ser uma gênero musical que agrada bastante os brasileiros, inclusive na região em que a trama transcorre.

A escolha acertada do cenário, se reflete também na boa escolha do elenco composto por artista LGBTQIA+ que traz nomes como Leandro Faria Lelo, que trabalhou com diretor no curta de ficção "A Vez de Matar, A Vez de Morrer" (2017), Renata Carvalho, Allan Jacinto Santana, Rafael Teóphilo, além de participações de Mel Gonçalves, da Banda Uó, e também Leo Moreira Sá. O entrosamento de todos torna crível as amizades, assim como funcionamento da fábrica de fertilizantes, do mercadinho, enfim, todo o funcionamento desta cidade.

Paula (Renata Carvalho) e Sandro (Fernando Faria) que retratam uma amizade cheia de afeto | Divulgação


Por mais que "Vento Seco" traga essa áurea pesada de sexo e fetichismo, o filme também explora outros tipos de relacionamentos interpessoais. As cenas de amizade de Sandro com Paula, merecem maior ênfase, ao mesmo tempo que este afetuoso convívio transborda muito zelo e total cumplicidade, boa parte de seus diálogos são utilizadas para criticar duramente a falência das relações trabalhistas.

Assistido ano passado durante a 9ª edição do Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, o exímio trabalho de uma equipe tão focada e competente já havia despertado em mim a vontade de falar sobre este filme, finalmente com a sua chegada a um circuito, mesmo que ainda bem restrito, porém mais comercial, em exibição em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Manaus, Brasília e Belo Horizonte, além de sua disponibilização para locação digital na plataforma Sala Maniva, esse desejo se fez necessário, assim como o interesse de que esta obra também seja descoberta.