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Cinema | "007 - Sem Tempo Para Morrer", por Paulo Costa

 



Mais do que um encerramento apoteótico, longa é uma emocionante e respeitosa carta de despedida de Craig aos fãs de Bond

Por Paulo Costa


Quando falamos em grandiosas franquias seja no cinema ou até mesmo na TV, logo pensamos em muitos nomes, mas quando falamos das mais longevas, de imediato as pessoas sabem que estamos nos referindo a "Os Simpsons" ou então "007", esta iniciada em 1962 com o icônico Sean Connery dando vida ao espião pela primeira vez em "007 Contra o Satânico Dr. No". De lá pra cá foram mais de 20 longas, além de Connery que encarnou o personagem por 6 filmes entre 1962 e 1971, nomes importantes como Roger Moore (7 filmes - 1973 a 1985), Pierce Brosnan (4 filmes - 1995 a 2002) e até Timothy Dalton (2 filmes - 1987 e 1989) e George Lazenby que mesmo vivendo Bond uma única vez em "A Serviço de Sua Majestade", de 1969, fizeram desta, a mais duradoura franquia cinematográfica. Com Úrsula Andress sendo a pioneira das Bond Girls, outras beldades como Halle Berry, Eva Green, Olga Kurylenko Monica Belluci, além de trilhas marcantes que vão de Shirley Bassey à Adele, passando por Madonna, Chris Cornell, Duran Duran, Garbage e até Paul McCartney, transformaram não só o agente secreto da MI6, James Bond, em um dos mais icônicos e famosos personagens da sétima arte, como popularizaram o gênero da espionagem e eternizaram de uma vez por toda este universo criado na literatura por Ian Flemming em 1953, em "Cassino Royale", que se tornou o inicio de umas das mais cultuadas e importantes obras de ação da literatura, que teve ao todo 3 adaptações, sendo uma delas para a TV.

Em 2006, "Cassino Royale", sendo a terceira destas adaptações, introduziu pela primeira vez o astro Daniel Craig a todo este mundo de tiro, porrada, bomba, charme e muito glamour. Alvo de várias criticas por trazer um Bond diferente do que já estávamos habituados, deixando de lado toda a sensualidade, Craig trazia um personagem loiro e reformulado, muito mais carrancudo e briguento, mudanças que incomodou parte dos fãs, ao mesmo tempo que agradou outra parcela, além de conquistar aqueles que nunca haviam despertado interesse na obra, isso por si só já era um marco não só para sua carreira, mas também para a franquia, que o manteve como protagonista por 15 anos. Ao longo de 5 filmes tivemos em tela algumas das mais importantes e até mesmo significativas histórias sobre este personagem.

"007 - Sem Tempo Para Morrer", o 25º e mais recente longa, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 30, consegue ao lado de "Operação Skyfall" (2012) e do já citado "Cassino Royale", formar uma trinca excepcional que trabalha ao máximo não só o passado de Bond, mas também o seu lado mais humano. Trazendo a tona os sentimentos mais profundos deste personagem, que sempre mascarado por uma cara de mau, foi capaz de reverter as avaliações negativas na escolha de Craig, além de entregar neste meio tempo elogiadas obras, onde "Skyfall" chegou a ser cotado como o melhor e mais importante filme de 007.

Com Lashana Lynch, que interpreta Nomi, temos uma prospera diversidade para próximos filmes | Divulgação


Contudo, assim como os astros que interpretaram Bond no passado, chega uma hora que esta vida de agente secreto se torna exaustiva e para Daniel Craig não seria diferente. O ator que chegou a anunciar sua "aposentadoria" e que com "007 Contra Spectre" seria sua ultima atuação nesta saga, fomos surpreendidos com o anuncio que ele viveria o personagem mais uma vez, e este sim seria o final da "Era Craig". Para nossa maior surpresa, "Sem Tempo Para Morrer", não é somente um simples encerramento de arco do personagem, mas sim uma bela despedida do própria Craig ao personagem James Bond, e aos mais fieis fãs que mereciam algo tão emocionante como o que foi criado para este último longa.

Na trama, Bond deixou o serviço ativo e está desfrutando de uma vida tranquila na Jamaica. Sua paz não dura muito quando seu velho amigo Felix Leiter, da CIA, aparece pedindo ajuda. A missão de resgatar um cientista sequestrado acaba sendo muito mais traiçoeira do que o esperado, levando Bond à trilha de um vilão misterioso armado com nova tecnologia perigosa. Com um roteiro assinado por Neal Purvis, Robert Wade, Phoebe Waller-Bridge e Cary Joji Fukunaga, que vem focado em concluir a trajetória de muitos dos personagens, temos aqui um foco maior em Madeleine, personagem de Lea Seydux, que assim como Bond, precisará confrontar fantasmas de seu passado. E a James, que durante toda sua vida foi condicionado a não confiar em nada e em ninguém, e diante de tantas perdas precisara abrir mão de alguém que amava e confiava, quando esta passa a ser uma possível ameaça.

Repleto de muita extravagancia e grandiosas cenas de ação que garantem não apenas muita diversão. Estas cenas também carregam em cada detalhe muita nostalgia, já que temos a todo instante a nossa frente elementos que homenageiam os filmes mais clássicos da franquia. Assim como o próprio script assinado por Cary Joji FukunagaNeal Purvis, Robert Wade e Phoebe Waller-Bridge esta, conhecida pela renomada série "Fleabag" onde além de criadora encarou também a missão de protagoniza-la, é a segunda mulher a ser creditada na franquia como roteirista, anteriormente apenas Johanna Harwood aparece entre os roteiristas, sendo responsável por "007 Contra o Satânico Dr. No" e "Moscou Contra 007" (1963), que mescla com muita harmonia uma história não tão impossível de se acontecer, com momentos mais mirabolantes no melhor estilo "Dr. No", "007 Contra Chantagem Atômica" (1965) e "007 Contra o Foguete da Morte" (1979), a trama também possui uma carga tão sexy como "Os Diamantes São Eternos" (1971) e "O Espião que me Amava" (1977). E, o diferencial vem em toda a dramaticidade crescente, cercadas de veneração a personagens que deixaram a obra anteriormente, como a atriz Judi Dench, culminando em uma filme esplendoroso e muito significativo para franquia, para o personagem, para todo o elenco, todos os envolvidos nesta produção, e principalmente para Craig.

25º filme encerra a "Era Craig" resgatando elementos clássicos da franquia, com muita sensualidade | Divulgação


Alias, Daniel entrega uma atuação gloriosa que vai muito além de gestos corporais ou entonações em nos diálogos, seu maior e possivelmente mais difícil trabalho está em seu olhar, que por traz de uma expressão corporal totalmente sisuda, seus olhos transmitem por horas tristeza e medo, em outros momentos muita doçura e afeto, entregando assim o James Bond mais humano que já tivemos em todas essas décadas. Logo na cena de abertura somos arremessados aos seus olhos azuis, que em uma sequencia que foge do clichê, o personagem rompe seu vinculo amoroso com Madeleine, e em uma abraço de despedida seguido apenas de palavras simplórias como "terminamos", vemos nitidamente neste olhar, que tal rompimento se deve muito mais como uma proteção a própria amada, do que como uma separação cercada por duvidas, por mais que elas existam, o instinto de proteção desta vez falou muito mais alto. Além de um humor presente neste personagem que transita entre o sarcástico e bobo, mas sem descaracteriza-lo, pelo contrario, funciona como uma boa válvula de escape para ele e para o espectador, pois tudo surge naturalmente.

"Sem Tempo Para Morrer" também é um dos filmes com uma diversidade mais prospera (méritos de Waller-Bridge), afinal, mais do que belas Bond Girls, temos mulheres poderosas que assim como James estão dispostas e entrar na pancadaria com os dois pés no peito dos inimigos. Com Ana de Armas temos a agente Paloma, sempre bem humorada encara qualquer desafio com muito entusiasmo, uma pena que sua participação tenha sido rápida, e aguardo ansiosamente para tê-la em futuros filmes. Já Lashana Lynch rouba a cena, poderosa e sarcástica, entrega uma Nomi que deixa muitos homens no chinelo, e com um prazer imensurável sinto que ela esteja ao patamar de um bom agente 007, além disso, a química com Craig transcende a cada momento, presenteando o publico com cenas memoráveis e uma dualidade que me fogem palavras. Além disso, finalmente o personagem de Ben Whishaw, Q, traz uma grandiosa e ao mesmo tempo sutil abordagem a comunidade LGBTQIA+

Do elenco de filmes anteriores, além de Whishaw e Seydux, retornam Ralph Fiennes como M, Naomie Harris como Eve Moneypenny e Jeffrey Wright como Felix Leiter - a nível de curiosidade, desde "007 - Permissão Para Matar", de 1989, que não víamos os personagens Q, M, Moneypenny e Felix no mesmo filme - e também participação de Christoph Waltz como o enigmático vilão Blofeld. Se junta a este elenco Billy Magnussen como Logan Ash, e claro, Rami Malek, que com Lyutsifer Safin, entrega um vilão que foge ao comum,  com uma motivação plausível, em determinados momentos é possível a plateia se conectar a este personagem, através de um discurso palatável, que consegue vender muito bem suas ideias ao público, oferecendo um personagem doentio e assustador, mas ao mesmo tempo compreensível.

Rami Malek entrega um vilão que arrepia por seus discursos plausíveis | Divulgação


Em questões técnicas temos algo minuciosamente primoroso, seja em grandiosas locações abertas que nos faz viajar ao redor do mundo, seja pela estonteante fotografia que encanta aos olhos, ou por uma trilha magistral orquestrada por ninguém menos que Hans Zimmer que proporciona aos nossos ouvidos uma grandiosa e penetrante sinfonia. Aproveito também para me redimir com Billie Elish, que com a canção tema "No Time to Die", mesclada a estonteante animação de abertura chega a arrepiar e, desde já faço minhas apostas e aguardo ansiosamente por sua apresentação no Oscar do ano que vem.

O cineasta Cary Joji Fukunaga, que também participa do roteiro, é conhecido por seu trabalho em episódios de consagradas séries como "True Detective", "The Alienist" e "Maniac", além de filmes como o drama de guerra "Beasts of no Nation", onde temos projetado ao longo de mais de 160 minutos, um ilustre trabalho que deixa nitidamente perceptível que além de executar seu oficio e entregar algo gratificante, temos um trabalho de equipe, onde sua visão se funde com a de outros grandes profissionais como os de som, iluminação, cenografia, figurinos, edição, e o resultado entregue engrandece ainda mais a experiência, tornando-a muito mais do que uma simples ida ao cinema, mas em algo verdadeiramente prazeroso de se vivenciar na tela grande. Um deslumbre audiovisual que deixará a plateia e aos fãs de 007 extasiados com o que a obra se propõe e magistralmente consegue ser.

Sem mais delongas e aderindo a campanha #SemTempoParaSpoilers, encerro esta, que foi uma das resenhas mais difíceis de escrever sem entregar pontos cruciais e, principalmente por ser um grande fã e admirador desta franquia, que com os olhos mais uma vez cheios d'agua digo que este, foi muito mais do que um filme. Muito mais do que um evento cinematográfico, que um encerramento apoteótico, "007 Sem Tempo Para Morrer", em uma descrição mais poética, é uma respeitosa e emocionante carta de despedida de Daniel Craig para com os fãs de James Bond, e essa sensação de dever cumprido é inquestionável, assim como a vontade que fica ao sair da sala de cinema em preparar um bom Martini pra digerir tudo aquilo que nos foi proporcionando. Um brinde!