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Cinema | "Maligno", resenha por Paulo Costa



James Wan mira no trash e entrega um terror do mais alto nível... assustador, original e surpreendente!

Por Paulo Costa


Você pode até não concordar, mas James Wan é hoje um dos maiores nomes e também um grande responsável por reinventar o gênero terror. Em uma época em que ainda vivíamos uma saturação de continuações desnecessárias e tentativas frustradas de emplacar a qualquer custo a já manjada formula que transformou o terror adolescente dos anos 1990 em clássicos instantâneos ou, trazer de volta franquias que estavam completamente esquecidas em reboots desagradáveis, ele foi capaz de mergulhar em cultuadas obras como "Seven", "O Colecionador de Ossos" e até mesmo "O Silêncio dos Inocentes" e, em 2004, com um orçamento de pouco mais de US$ 1,2 milhões, recriou a maneira de se contar e também de se assistir a um filme sobre serial-killer, nascendo assim "Jogos Mortais".

Não parou por ai, sua mente engenhosa ainda nos levou por caminhos do sobrenatural ao dar inicio a duas grandiosas franquias: "Sobrenatural", que se iniciou em 2010, e "Invocação do Mal", de 2013, que culminou em um grandioso universo com tramas reais arrepiantes. O tempo passou, o promissor cineasta, agora já um figurão em Hollywood, se aventurou por outros gêneros ao dirigir o sétimo filme de "Velozes & Furiosos" e também "Aquaman", da DC, onde ambos dividem opiniões e não encabeçam os melhores trabalhos de Wan. Para nossa maior surpresa, é com "Maligno", que chegou aos cinemas nesta quinta-feira, 09 de setembro, que o diretor volta a fazer história, provando que nasceu para contar e se reinventar dentro daquilo que mais sabe fazer de melhor, um bom filme de terror.

Na trama, Madison (Annabelle Wallis) passa a ter sonhos aterrorizantes de pessoas sendo brutalmente assassinadas. Ela acaba descobrindo que, na verdade, são visões dos crimes enquanto acontecem. Aos poucos, ela percebe que esses assassinatos estão conectados a uma entidade do seu passado chamada Gabriel. Para impedir a criatura, Madison precisará investigar seu próprio passado e enfrentar seus traumas de infância. Enquanto isso os detetives Kekoa Shaw (George Young) e Regina Moss (Michole Briana White), duvidando dos relatos de Madison, começam uma investigação paralela, que culminara em um encontro de informações surpreendentes.

Filme mira no trash mas entrega algo tão grandioso que beira a perfeição | Divulgação


A partir da história criada por James Wan, Ingrid Bisu e Akela Cooper, o roteiro assinado por Cooper, traz um enredo muito bem construído, com reviravoltas surpreendentes, seguido por um desfecho totalmente inusitado e arrasador. Fugindo do convencional, e de outras obras em que o próprio Wan chegou a roteirizar e que sempre seguia por uma caminho mais sério, aqui temos um roteiro que trafega com maestria entre o horror e o cômico, provando que nem sempre é só de sustinhos banais que uma estrutura se sustenta, há cenas que emergem do ridículo com o proposito de fazer rir pra depois te assustar. Além disso, filme brinca e reconstrói com muita criatividade ao se apropria de subgêneros do terror como o slasher, home invasion e o gore e, através de uma exacerbada violência gráfica, nos brinda com um divertido banho de sangue. Contudo, o mais interessante é como este script, mesmo com uma miscelânea de acontecimentos consegue muito bem se amarrar, e justificar fatos que anteriormente pareciam aleatórios mas, posteriormente, são peças fundamentais de uma trama que deixara a plateia em êxtase. Até mesmo temas como relacionamento abusivo, feminicidio e relacionamentos familiares, que ao primeiro olhar possa parecer algo utilizado de forma superficial, futuramente fará maior sentido nas entrelinhas e no desenvolvimento tanto de Madison como de Gabriel.

A direção de James Wan é meticulosa a cada frame, de forma estratégica e muito sagaz, ele desenha através de movimentos de câmera elaborados e cria de forma arquitetônica sequências visualmente deslumbrantes que beiram a perfeição. Em particular, há um plano onde temos uma tentativa de fuga da protagonista dentro de sua própria casa todo filmado de cima da casa, como se estivéssemos observando um ratinho tentando fugir de um labirinto por uma visão panorâmica de cima para baixo. Porém, cabe ao espectador prestar atenção a cada um desses singelos detalhes, que não estão ali por acaso.

Assim como a maior parte de sua filmografia que vem sempre cheia de influencias, onde até mesmo em "Aquaman" temos elemento que trazem um pouco do próprio "Invocação do Mal" assim como as criaturas do foço que são total referencia a "Piranhas", em "Maligno" não poderia ser diferente, e nota-se nitidamente que o diretor homenageia constantemente clássicos do gênero como "Poltergeist""O Chamado""A Casa dos Maus Espíritos" (posteriormente refilmado como "A Casa da Colina"), e até alguns mais trashs como "A Experiência" e "Eles Vivem".

James Wan no set de seu filme mais extravagante e engenhoso | Divulgação


Esteticamente falando, esta talvez seja a maior extravagancia de seu diretor, com cenas grandiosas, que carregam uma fotografia capaz de transmitir os mais diferentes sentimentos, além de efeitos especiais impecáveis, o longa conta também com uma equipe de maquiagem que entrega algo bizarro e ao mesmo tempo excêntrico e surreal. O design de som também merece seus créditos, além de torna a experiência ainda mais imersiva, é um dos quesitos fundamentais que faz valer nossa ida ao cinema. Quando tudo se funde com a cabeça pensante e criativa de Wan, temos projetado na grande tela algo incomum e brilhante.

Com um elenco muito bem alinhado, onde Annabelle Wallis volta a repetir parceria com o diretor após "Annabelle" (estando também em "Annabelle 2"), a atriz entrega uma ótima atuação horas focada no horror, horas no drama, mas sempre em dosagens essências para não entregar algo caricato e histérico. Também vale analisar os personagens que orbitam ao seu redor onde cada qual traz sua própria e distinta essência, permitindo que a trama trafegue pelos mais diferentes gêneros, com George Young temos o astuto detive que parte pra ação sempre que preciso, já em Michole Briana White temos o lado sarcástico de um mulher fodona, que brilhantemente rouba a cena, e proporcionando boas piadas e também o alivio cômico, respectivamente eles interpretam os detetive Kekoa e Regina. A irmã da protagonista vivida por Maddie Hasson complementa o humor, sempre com tiradas sarcásticas envolta a tramas policiais feitas para a TV, vide "Law & Order" e "CSI", ela também traz o lado fraternal e que sempre se faz presente para ajudar sua irmã, mesmo quando toda o passado vem a tona. Sobre a entidade maligna conhecida como Gabriel, eu deixo para o espectador ser surpreendido com umas das maiores reviravoltas que já tive o prazer de vivenciar no cinema.

Assim como do lixo nasce a mais bela flor, "Maligno" nasce do bizarro para nos entregar uma obra genuinamente original e arrasadora. Poderia ser algo ruim, de mau gosto e sem propósito, e infelizmente o filme não é para todos os públicos, para alguns que se acham os "entendedores", mas que não conseguem enxergar uma obra fora do mainstrean, com certeza dirão que o longa de James Wan é sim um filme ruim. Já para aqueles que estão sempre abertos a ver muito além do que apenas aquilo que foi projetado em tela, tenho a certeza que enxergarão uma obra que traz seu diretor de volta as origens e ainda assim, mais uma vez reinventa o gênero, proporciona uma divertida e arrebatadora experiência, afinal, temos aqui um cinema do mais alto nível, além de um dos filmes mais surpreendentes que você verá esta ano, e não é exagero de minha parte dizer isso.