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Cinema | "Uma Noite de Crime: A Fronteira", resenha por Paulo Costa

 


Filme acerta em cheio ao expor o extremismo e a intolerância vigentes na sociedade atual

Por Paulo Costa


Quando lançado em 2013, de forma bem tímida, o thriller "Uma Noite de Crime" (The Purge) chocou por conseguir se apropriar de um tema comum no cinema, o famoso home invasion, mas ainda assim trazer elementos inéditos, além de uma grandiosa e impactante critica sócio-política. Através do boca a boca, filme foi ganhando maiores proporções e, obvio, que diante de um sucesso repentino o estúdio pensaria em como expandir este enredo e transformá-lo em uma franquia. Dito isso, tivemos mais 3 longas narrando os reais motiviso e os efeitos do expurgo, sempre apresentado por diferentes pontos de vista e também em uma diferente ordem cronológica, além de 2 temporadas já lançadas no Prime Video. E quem diria que tanto seu criador James DeMonaco, como seus produtores ainda tivessem folego para mais uma história?

Anunciado como o último filme da franquia (o que eu duvido muito), chegou aos cinemas na quinta-feira, 02 de setembro, "Uma Noite de Crime: A Fronteira" (The Forever Purge, que faz ainda mais sentido ao enredo). Com uma trama que transcorre no ano de 2048, exatamente 8 anos após os acontecimentos em "12 Horas Para Sobreviver - O Ano da Eleição", onde temos os NPFA (Novos Pais Fundadores da América) reestabelecendo o expurgo anual após estes anos todos. Contudo, a situação foge do controle quando um grupo extremista anti-imigração continua expurgando logo após o amanhecer.

Por incrível que parece, este consegue ser um dos melhores filmes da franquia ao trazer um roteiro que transpõe em tela exatamente o que foi a "Era Trump", retratando uma sociedade ainda mais intolerante com os imigrantes, neste caso com os mexicanos. Temos todo este ódio transbordando em diálogos e ações, ao acompanhar de perto um grupo de imigrantes que há poucos meses conseguiu se estabelecer na cidade do Texas e vivem em busca do famigerado "sonho americano", mas esse sonho cai por terra e o que temos a seguir é exatamente este reflexo de discriminação, ódio e violência.

Longa acerta em suas pautas, mas peca na falta de direção de elenco | Divulgação


As cenas de ação são grandiosas, carregadas de muita tensão com direito a bons sustos. Em sua maioria em cenários abertos e que refletem a grandiosidade de todo o caos instalado. A mixagem de som é algo incomum, o que já vale o ingresso para ver uma sala de cinema. Uma das cenas mais marcantes que é possível reconhecer este exímio trabalho se passa dentro de uma van carregando algumas pessoas, onde um supremacista branco com a tatuagem da suástica no rosto começa a reconhecer o som de cada tiro, assim como para o personagem, a sensação para o público também se transforma em uma "orquestra", entregando um trabalho minucioso neste quesito, e por muitas das vezes totalmente imersivo.

Infelizmente em "Uma Noite de Crime: A Fronteira" nem tudo é perfeito. Por mais que tenhamos em tela pautas essenciais sobre imigração, discriminação e intolerância, por muitas vezes temos furos de roteiro gritantes, falta de profundidade, além de imprudentes erros de sequência com objetos que somem e reaparecem numa edição frenética, mas ao mesmo tempo errônea, inclusive no timing dos fatos, onde a sensação é que os personagens já sabiam exatamente o que aconteceria a cada instante, desgastando a experiência que deveria ser de cenas carregadas de surpresa. O maior espanto é como um estúdio como a Universal Pictures, seguida de produtores de renome como Jason Blum e Michael Bay, permitiram que algo assim passasse despercebido.

Outra falha que chega a incomodar muito é o sotaque dos atores mexicanos, que desaparece e reaparece quase que ao longo de todo o filme. Por mais que Ana de la Reguera (série "Um Drink no Inferno" e "Army of the Dead") e Tenoch Huerta ("Narcos: México") se esforcem em manter o sotaque, ao mesmo tempo em que buscam aprimorar o idioma local, a sensação é a de que existe uma grande falta de direção de atores, já que para o próprio expectador não se sabe se de fato eles já dominam o inglês, em cenas em que a pronuncia sai perfeita e sem sotaque algum, ou se realmente ainda estão aprendendo o dialeto. Parte desta culpa esta nas mãos do cineasta Everdardo Gout, que parece muito mais focado em criar cenas de ação megalomaníacas, do que em se preocupar na direção de seu elenco, que por horas parecem perdidos e sem um rumo certo a seguir.

Ainda assim, por mais que o longa tenha suas falhas e não sejam pequenas a ponto de passarem batidas, "Uma Noite de Crime: A Fronteira" traz muita reflexão em cenas de extrema violência, carregadas de angustia e desespero, que não fogem muito de uma realidade tão cruel e assustadora como a dos dias atuais. Tenho muito medo de como este filme possa ser interpretado, ainda mais neste momento de extremismos e intolerâncias com as diversidades onde presenciamos fatos assustadores e deprimentes em uma sociedade cruel.