Uma obra de resistência, carregada de afeto e respeito com as diversidades e suas muitas formas de ser, amar e viver
Por Jurandir Vicari
A Diversidade, a Representatividade e o Orgulho LGBTQIA+ não pode e nem deve ficar restrito ao mês de junho. Por isso, vamos indicar a produção nacional e original da Amazon Prime Video "Manhãs de Setembro", pra você sair da bolha, e te ajudar a criar empatia com pessoas diferentes de você, ou ainda melhor, poder ser ver na tela e saber que não está sozinho.
As artes, em geral, sempre servem não só para entreter, mas também para educar e fomentar a reflexão. É inegável a importância da representação no segmento artístico, e a capacidade que ela tem de dar vozes para quem foi silenciado, marginalizado, oprimido, e é uma ponta de esperança ver grandes veículos de comunicação, como o streaming da Amazon, ter em seu catálogo uma série que faz o seu papel de tirar das sombras pessoas trans, gays, moradores de rua, prostitutas, e tudo isso ao som da icônica cantora Vanusa, que fez tanto sucesso na Jovem Guarda e faleceu recentemente. Com isso, não só a produção audiovisual brasileira mas também a inclusão social está disponível e ao alcance de pessoas em mais de 200 países e territórios, espalhando a nossa cultura brasileira a nível global.
O enredo é focado na vida de Cassandra, que marca a estreia da cantora Liniker como atriz e assume uma protagonista de responsa. Mulher trans, saída do interior, ela tenta se firmar como mulher independente, que precisa conciliar o trabalho como motogirl e sua carreira artística atribulada por ela por negar a cantar os sucessos do momento. Ela consegue sua tão sonhada kitnet e vive um romance ao lado do garçom Ivaldo, mas tudo isso se transforma ao surgir Leide, uma mulher do passado que traz a revelação de um filho, Gersinho. Assim, com essa inesperada notícia, Cassandra, entra em conflito com ela mesma, e começa a fazer importantes questionamentos sobre aceitação, como se cria uma base familiar, e embarca em sua jornada tentando desenvolver suas múltiplas facetas.
Além de Liniker, o elenco conta com respeitáveis nomes da nova safra nacional como Thomas Aquino de sucessos como "Bacurau" e a série "Boca a Boca", interpretando Ivaldo. Leide é vivida por Karine Teles, que já contracenou com Thoma em "Bacura" e esteve em sucessos como "Benzinho" e "Malhação: Seu Lugar no Mundo". O jovem Gustavo Coelho vive Gersinho, filho de Cassandra com Leide. Ainda no elenco temos o ator e cantor Paulo Miklos, que forma um bela dupla com Gero Camilo, e participações de Clodd Dias e da cantora Linn da Quebrada.
Criada por Josefina Trotta, Alice Marcone e Marcelo Montenegro, que também assinam o roteiro, temos em tela uma produção que reflete o lado mais humano de sua protagonista, assim como demais personagens, que são compostos de pessoas pobres que batalham a vida no cotidiano de uma cidade grande, e em sua maioria pessoas negras, saindo do estereótipo e dos dramas típico das nossas novelas, tornando visível histórias de pessoas que a própria sociedade insiste em não enxergá-las, além de construir uma delicada e complexa trama familiar, ainda mais em situação atual onde a "família tradicional brasileira" exala ódio as diversidades e suas muitas forma de amar e viver . Ao mesmo tempo que é um frescor em ver tramas como esta sendo contadas, ouvir e ver Vanusa, sendo apresentada as novas gerações, com letras e melodias tão necessárias nos dias atuais, como a própria canção que deu o titulo à obra, torna esta minissérie essencial.
"Manhãs de Setembro" entrega uma primeira temporada promissora, e infelizmente curtinha, com apenas 5 episódios com pouco mais de 30 minutos cada, e deixa um gostinho de quero mais. Espero que tenha repercussão necessária para ser renovada para mais temporadas, afinal poucas são as produções que entregam uma realidade nua e crua e traz em cada cena a sua dureza e a identificação com a vida real, o que reforça o interesse em ir até o fim, criando laços e empatia do expectador com cada um de seus personagens.
"Manhãs de Setembro" entrega uma primeira temporada promissora, e infelizmente curtinha, com apenas 5 episódios com pouco mais de 30 minutos cada, e deixa um gostinho de quero mais. Espero que tenha repercussão necessária para ser renovada para mais temporadas, afinal poucas são as produções que entregam uma realidade nua e crua e traz em cada cena a sua dureza e a identificação com a vida real, o que reforça o interesse em ir até o fim, criando laços e empatia do expectador com cada um de seus personagens.